Nos dias que correm, o contacto com substâncias como o álcool ou tabaco
dá-se em idades cada vez mais precoces. Apesar da muita legislação em vigor, a
verdade é que o acesso continua facilitado e não se revela tão difícil quanto
isso adquirir bebidas alcoólicas ou um maço de cigarros.
No entanto, da mesma forma que existe muita gente a "iniciar-se"
no consumo de tabaco (tema central de hoje), existem outros tantos cuja vontade
passa por abdicar do vício. Por razões de saúde ou económicas, os esforços
centram-se em renunciar a necessidade de satisfazer o organismo com este tipo
de substâncias que se revelam tão nocivas a curto prazo.
O corpo vicia-se de tal forma que somente na presença de uma grande força
de vontade é que se consegue deixar por completo a prática sem que se
verifiquem recaídas. Apesar de existirem produtos que facilitam este processo,
de nada servirão se o autocontrolo não for estável e persistente. Porém, não
sei até que ponto serão assim tão eficazes como dizem ser.
Assim, e no decorrer desta temática, surge sempre uma questão com que todos
os ex-fumadores se deparam: o aumento de peso!
Grande parte dos casos de ganho de peso com que me cruzo diariamente
deram-se após a pessoa deixar de fumar. Assim:
Será que deixar de fumar engorda?
Estaremos perante mais um mito? Neste caso, não. Todas as referências
mencionam que o facto de se deixar de fumar está diretamente relacionado com o
aumento de peso por várias razões.
Que o tabaco é prejudicial e tem imensas implicâncias no funcionamento do
nosso organismo, já todos sabemos. No entanto, deixar de fumar, apesar de ser a
opção mais saudável (sendo que o melhor será mesmo nem começar), comporta um
conjunto de alterações que poderão ser prejudiciais ao corpo se os
comportamentos a adotar posteriormente não forem os mais adequados.
Em primeiro lugar, o ato de fumar estimula o nosso organismo. Ao
reduzir/extinguir esse estímulo, o metabolismo irá abrandar. Ou seja, a médio
prazo, caso não sejam adotados comportamentos saudáveis como praticar exercício
físico e alterar os hábitos alimentares, a pessoa começará a engordar
lentamente. O aumento de peso pode ir de 3 a 12kg. Contudo, ganhar peso é reversível e pode ser combatido "facilmente", o
mesmo não se verificando com as lesões pulmonares consequentes do tabagismo. Como tal, deixar de fumar, pelas mais diversas razões, é ponto prioritário!
Em segundo lugar, a nicotina tem a capacidade de estimular o metabolismo.
Ajuda, também, a suprimir o apetite. A pessoa sente-se saciada por muito mais
tempo não tendo necessidade de comer tantas vezes. Por outro lado, acaba por
ser mais fácil fazer uma pausa para fumar um cigarro do que para fazer uma
refeição além de que, ao consumir nicotina, estará a "dar" prazer ao
organismo.
Ao deixar de fumar, o olfato e o paladar da pessoa melhoram. Além de
aumentar o apetite, os alimentos começam a tornar-se mais apetecíveis fazendo
com que comer passe a ser uma forma de escape à vontade incessante de recorrer
ao cigarro. Ora, se o metabolismo diminui e as pessoas começam a comer em maior
quantidade, naturalmente que a questão se vai refletir sobre o peso corporal
num curto espaço de tempo.
O fator psicológico também tem um papel relevante. O consumo de nicotina
comporta alterações a nível psicológico. Deixando de fumar, a pessoa perde o
prazer associado a esse hábito. Nessa omissão, a carência psicológica poderá
ser extrema. Assim, e como já foi falado em artigos anteriores, o corpo
procurará obter compensação na alimentação (principalmente aquela que "faz
engordar"). A justificação para esta questão reside nas variações de
açúcar. Num fumador, os níveis de açúcar são bem mais elevados quando comparado
um não fumador. Nesse sentido, percebe-se a maior "atração" por
doces quando se deixa de fumar.
Então, o que fazer para
minimizar estes efeitos secundários?
Antes de
mais, para que o processo de reabilitação tenha maior probabilidade de dar
certo, recomendo que o consumo de tabaco seja reduzindo de semana para
semana. Uma redução brusca tornará a missão mais complicada e o mais certo
será frustrar as expectativas. Para evitar tentações, numa primeira fase,
evitar locais propícios a fumar poderá ser uma mais-valia.
Relativamente
ao aumento do peso corporal, tudo aquilo que já foi mencionado em artigos
anteriores poderá (e deverá) ser posto em prática. Consultar um nutricionista
numa fase inicial poderá ser uma mais-valia para que haja um controlo
mais efetivo. Comer de três em três horas e beber água são princípios
básicos. Contudo, existem sempre momentos em que a tentação fala mais alto.
Nesses casos, se a vontade passar por fumar um cigarro, recomenda-se mastigar
uma pastilha elástica ou um rebuçado sem açúcar. Se a vontade passar por
comer, optar por alimentos pouco calóricos e que obriguem a mastigar (maçã ou
cenoura, por exemplo).
Iniciar a
prática de atividade física é outro aspeto fundamental. Além de comportar um
leque variado de benefícios adjacentes ao exercício físico, permite-nos
relaxar e ocupar o tempo. Na ausência de tempos livres (normalmente
responsáveis pelos delitos que cometemos), a probabilidade de falhar é menor.
Assim, se
a intenção passar por deixar de fumar, deverá ser prudente, paciente e
persistente. Não é fácil mas também não é impossível!
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Referências:
PINTO, C. Deixe
de fumar sem engordar
VELOSO, P. Deixar
de fumar engorda?
Excelente artigo.
ResponderEliminarPalavra de um ex-fumador!